Encontro com Mr. Robert Crumb
August 9, 2010, 7:50 pm
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Existem lendas. Para um cineasta, encontrar com Stanley Kubrick seria o maior encontro de sua vida. Para um guitarrista seria encontrar Jimmy Hendrix. É lamentável que esses dois já estejam mortos. Mas Robert Crumb está vivo, bem vivo. Lenda viva. Foi o maior encontro “profissional” da minha vida.

Foi no domingo, último dia da FLIP. Depois de já ter passado o furor dos jornalistas, fui encontrá-lo na pousada da Marquesa em Paraty, acompanhado da minha amiga Ale Marder, lá pelas 18:30. Levei meu único álbum publicado até o momento e fiz um desenho para entregar a ele.  O Gilbert Shelton chegou antes e conversamos sobre a Beleléu e o Elcerdo, que havia entregue a antologia para ele um dia antes. Ele adorou. Logo em seguida chegou Lora, esposa de Shelton e agente dele e do Crumb. Aline e Robert chegaram amistosos. Me apresentei e pra minha surpresa Crumb disse “eu li seu livro ontem a noite, legal o lance”! Claro que gelou a espinha. Entreguei outro livro assinado e o desenho que havia feito e fiquei aliviado quando eles riram. “Você leu minha mente”, disse Robert. Conversamos durante uma hora e meia. Crumb se mostrou um gentleman, interessado pelo meu trabalho. Enquanto ele folheava meu álbum, perguntava sobre o uso do pincel, sobre as influências de cinema e sobre hachuras. “A maioria dos meus amigos quadrinistas me dizem para eu simplificar meu trabalho e para usar o pincel direito, para parecer mais solto”, desabafei para ele, que respondeu incisivo “Isso é papo furado ( na real ele disse “This is bullshit”), não dê ouvidos a eles, é difícil ter um traço tão seguro com pincel, continue assim”. “Ok, mestre!”, pensei comigo. Ele emendou: “não importa se o desenho é detalhado ou simples, isso cabe ao próprio artista decidir. Você só precisa se preocupar em desenhar cenas legíveis, simplificar é uma exigência da indústria”. Concordei e não darei mais ouvidos a quem me diz para eu simplificar, síntese vem com tempo. Conversamos um belo papo sobre a produção e conteúdo de Gênesis, sobre desenhar com pincel e caneta, sobre quanto tempo cada um leva para desenhar uma página – 2 a 3 dias para ele – e sobre cartunistas brasileiros. Perguntei se ele conhecia algum, disse que não, mas que tem bastante interesse. Eu disse que devia conhecer o trabalho do Angeli, Laerte, Lourenço Mutarelli, Rafa Coutinho (que ele lembrou que já havia conhecido um dia antes) e Alan Sieber. Contei um pouco sobre o trabalho de cada um e ele ficou muito afim de conhecer. Depois me contaram sobre seus novos projetos e emendamos uma conversa sobre discos antigos. Como eu precisava voltar para São Paulo, tive que me despedir, mas sem antes pedir um desenho pra ele. Fez o desenho, seguido de um convite para visitá-lo na França. Irei. Na despedida, Aline agradeceu por eu ter dividido meu trabalho com eles. A humildade é, com certeza, a base da grandeza.

Crumb é um cara elegante – ele não é corcunda, ele brinca que é -extremamente respeitoso, bem vestido e tranquilo, bem diferente do cara que ele mostra ser para os jornalistas. Ele realmente odeia jornalistas.

Prometi a ele que iria tentar achar alguns vinis de 78 rotações de músicas brasileiras e latino americanas de 1920/1930. Se alguém souber de algum exemplar e quiser me ajudar, agradecerei profundamente.

Agora volto pra prancheta, iluminado por Robert Crumb.

Abraço,

R. Grampá