Arte gerando arte
April 19, 2009, 10:17 am
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Não adianta reclamar. Não adianta esperar. Quem acredita vai atrás e encontra aliados.

Mesmice é inscrever um projeto em alguma lei governamental ou institucional que nem sempre privilegia bons projetos. Nenhum artista que se preze gosta de esperar pela aprovação dos engravatados. Eles geralmente privilegiam seus chegados e compadres. Nem sempre é assim, mas na maioria das vezes é.

Mas arte pode gerar arte. É isso que todo artista acredita, ou pelo menos quer acreditar.

De uma forma pioneira, as atrizes e produtoras Carolina Manica e Luciana Caruso aceitaram o desafio de remar contra a maré da mesmice em prol de um espetáculo teatral – o espetáculo BRUTAL, com texto do controverso e aclamado diretor, ator, músico e dramaturgo Mário Bortolotto- que conta com o apoio de alguns dos mais respeitados artistas brasileiros.

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( original inédito do quadrinhista e escritor Lourenço Mutarelli )                                    

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( pintura em acrílica do cartunista Laerte )

Grandes artistas como Laerte, Lourenço Mutarelli, os escritores Daniel Galera, Xico Sá, Marcelo Rubens Paiva, o próprio Mário Bortolotto, Daniel Pellizzari – doando manuscritos inéditos – os quadrinistas Fábio Moon, Gabriel Bá, André Kitagawa, Rafa Coutinho, Rafael Grampá ( eu ), Carcarah, o ator Paulo César Peréio – sim até ele – e dezenas de nomes fortes da arte contemporânea brasileira doaram suas obras em prol da arte. Em prol do espetáculo BRUTAL. Em prol de uma atitude que deve ser copiada. Ou melhor, levada adiante.

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( As atrizes e produtoras do espetáculo e da exposicão “Brutal” Carolina Manica e Luciana Caruso posando com as obras de Laerte e Loro Verz. Fotos de Renato Parada )

Essa atitude gerou a exposição BRUTAL, que acontecerá no dia 22 de Abril, na Coletivo Galeria ( Rua dos Pinheiros, 493 – Pinheiros-SP- 11 3083 6478 , a partir das 19hs às 23hs ). A compra de qualquer um dos originais será revertido em favor do espetáculo BRUTAL, que é extremamente FODA! Arte financiando arte. Apareça lá e venha confraternizar com a gente, beber ( de graça ), trocar idéias, encontrar seus amigos ou ídolos de uma só vez e ainda ter a chance de levar pra casa um original do seu artista preferido. Essa é uma atitude única de uma geração que não quer se conformar com a idéia de que a arte não se sustenta por si mesma. A gente acredita que SIM!

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Apoio do STUDIO SP, COLETIVO GALERIA e MERCEARIA SÃO PEDRO.

Te espero lá!

Abraço.

R. Grampá



Uma curta reflexão sobre experimentação
April 17, 2009, 12:43 am
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Esse texto é para quem realmente gosta de Quadrinhos. Quem não gosta pode achar chato, mas também pode ser que venha a gostar de HQs.

Em 1960, o escritor e poeta Raymond Queneau e o matemático François Le Lyonnais fundaram a Oulipo ( Ouvroir de Littérature Potentielle ou Abertura do Potencial da Literatura ). A Oulipo, na descrição dos próprios criadores eram “ratos que criaram um labirinto do qual se propuseram escapar”. Os fundadores e agregados ao grupo discutiam, como base, os trabalhos de Queneau, em especial o seu “One Hundred Billion Poems”- um livro de dez sonetos nos quais cada linha podia ser lida com qualquer um dos outros sonetos, criando assim um número de variações que Queneau calculava como dez `a décima quarta potência – e “Exercises in Style”, onde o mesmo conto era narrado 99 vezes diferentes. A sociedade cresceu e dois dos membros mais famosos foram o cineasta e novelista Judeu/Francês George Perec e o escritor e jornalista italiano Italo Calvino. A Oulipo foi criada com o fim de explorar as possiblidades criativas de se contar uma história, usando sempre as estruturas básicas, regras e os limites da narrativa como princípio para execícios experimentais. O dito “princípio das restrições”.

Desde a criação da Oulipo, inumeros novos grupos foram fundados sob o princípio das restrições, claramente influênciados pela Oulipo. Alguns exemplos são a Oupeinpo ( Abertura da Potencial da Pintura ), a Oumupo ( Abertura do Potencial da Música ) e a Oucuipo ( Abertura do Potencial Culinário ). Coletivamente, esses grupos são conhecidos como Ou-x-po.

Em 1992, o coletivo de quadrinhistas franceses L’Association criou a Oubapo ( Ouvroir de la Bande Dessinée Potentielle ou Abertura do Potêncial dos Quadrinhos ), sob o mesmo princípio das restrições que todos os outros grupos influênciados pela Oulipo. A Oubapo se propõe a usar os limites das Histórias em Quadrinhos para experimentá-los usando eles próprios. A forma das HQs é um exemplo dessas limitações. Todo mundo conhece a forma de uma HQ, seus quadros separados, seus balões, o texto dentro dos balões, os personagens que guiam as histórias, etc. A Oubapo se propõe a “brincar” com essas regras, pra tentar ir além da própria forma, pra testar as possibilidades que a narrativa pode nos proporcinar. É como se uma rede de TV resolvesse brincar com a estrutura narrativa de uma novela, contando o mesmo capítulo todo dia de formas diferentes, contasse de trás pra frente, mudasse os personagens principais e pontos de vista, e assim por diante. Ou mesmo um grupo de cozinheiros que se propoem a realizar 100 pratos diferentes com apenas 5 ingredientes.

Um dos fundadores da Oubapo, Patrice Killoffer, criou um dos meus álbuns de HQ preferidos. No “Six Hundred and Seventy-six Apparitions of Killoffer“, ele experimenta tirar por completo a divisão de quadros na página, o que resulta numa narrativa totalmente original, sem falar que é uma das sequências de páginas mais lindas que já vi.
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Ele narra uma história onde ele mesmo é o personagem principal, degladiando-se com seus desejos sexuais ao ponto de vê-los materializados como ele próprio. O resultado são 676 Killoffers vivendo na casa do Killoffer original, acabando com a vida dele.

Nos EUA, a Oubapo também têm os seus tentáculos e um dos meus autores preferidos é o Matt Madden, praticamente um dicípulo do Raymond Queneau, autor do álbum “99 Ways to Tell a Story“, que é basicamente isso mesmo.

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Ele cria uma cena muito simples e mostra que ela pode ser contada de 99 formas distintas.

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Simplesmente genial. É muito divertido e impressionante como ele realmente consegue contar a mesma história 99 vezes de forma completamente diferentes em vários aspectos.

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É um bom guia pra aspirantes a quadrinhistas, cineastas, roteiristas, escritores, montadores e donas de casa.

Aqui no Brasil,não tenho notícia se existe um grupo da Oubapo. Mas temos os nossos autores que se aventuram com os princípios das restrições e vão além da narrativa. O Laerte é um ótimo exemplo disso. Ele conhece como ninguém a estrutura da linguagem dos Quadrinhos e já experimentou diversos caminhos, conseguindo elevar a narrativa à estratosfera. O Rafael Sica também é um novo mestre da estrutura de tiras. Experimenta e vai além. A narrativa de Lourenço Mutarelli já desestruturou o modo como se contava Históras em Quadrinhos no Brasil, experimentando com o lado negro e com a sordidez da narrativa, colocando-a em linguagem de prosa nos balões de suas páginas.

Rafa Coutinho, na antologia “Irmãos Grimm em Quadrinhos”, publicada em 2007 pela editora Desiderata, contou a história da Branca de neve da maneira mais experimental e original que eu já vi – e já li muitas versões, pois me amarro em contos de fadas.

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É como se você estivesse assistindo a um filme em que todas as cenas tem o mesmo tempo, montadas de uma maneira cadenciada, mostrando sempre apenas o mínimo porém necessário para o entendimento de cada cena. Usando artifícios como repetição e textos monossilábicos, Rafa Coutinho provou o sabor do poder da narrativa contando uma história já contada infinitas vezes e que pode ser contada de novo e ainda assim ser original.

Em 2006, o Gabriel Bá, o Fábio Moon, a Becky Cloonan, o Vasilis Lolos e eu tentamos fazer algo diferente em termos de narrativa. Fizemos uma revista independente entitulada “5”- já pedindo perdão pela auto-referência. Não foi proposital, mas instintivamente nós também nos baseamos na idéia dos princípios das restrições e tentamos quebrar a narrativa de alguma maneira. A “5” conta histórias inventadas sobre nós mesmos, um dia imaginário em que um autor deveria contar sobre o outro autor, intercaladas e lincadas por simbolismos e referências das próprias histórias. Nós ganhamos o Eisner Awards – o subtitulado Oscar dos Quadrinhos – com essa publicação. Não acho que ganhamos esse prêmio porque fizemos algo experimental, até acho que os jurados do Eisner não deram muita bola pra isso, mas o certo é que experimentamos algo diferente do que fazíamos. E como ninguém aqui gosta de viver no passado, vamos de volta pra prancheta pois ainda existem infinitas maneiras de se contar histórias, e eu quero contar algumas delas.

Abraço,

R. Grampá



Mesmo delivery action figures – models waiting for approval
April 13, 2009, 11:34 pm
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O Bá fez um vídeo há algum tempo atrás, de quando chegou uma caixa com os toys da Umbrella Academy pra ele. Falei pra ele que quando chegassem os bonecos da Mesmo Delivery eu ia fazer um vídeo tirando sarro do dele. Não deu muito certo, mas o vídeo taí!

Esses são os modelos para a gente aprovar – o Rafael Grassetti, que modelou, e eu.

Quando os action figures finais, prontos pra venderem, na caixinha e tudo, faço outro vídeo – um menos chinelão – e digo como fazer pra adquirir uma peça.

Abraço,

R. Grampá